"Como é antigo o passado recente!" Gostaria que a frase fosse minha, mas ela é de Nelson Rodrigues numa crônica de "A Menina sem Estrela".
Para mim, meu passado não passou e minha história não envelhece.
Minha memória pode alcançar os acontecimentos que vivi a qualquer momento, e posso revivê-los como se ocorressem agora.
Mas, se eu os narrar, quem me ouve não pode, como eu, vivenciá-los. Por isso, para outros, são contos o que para mim é vida.
Mas é assim que corre o rio da vida dos homens, transformando em palavras o que hoje é ação.
Se não forem narrados, os acontecimentos e os nossos feitos passam sem deixar rastros.
Faladas ou escritas, são as palavras que salvam o já vivido e o conservam entre nós.
Só conservados pela lembrança é que os feitos e os acontecimentos podem entrar no tempo e fazer parte de um passado.
Recente ou antigo.
DULCE CRITELLI, professora de filosofia da PUC-SP.
Veja o texto completo em "Lembrança e esquecimento".